quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Amar é pisotear o próximo!



Nesta virada de ano voltou às manchetes uma notícia felizmente não muito freqüente: mais um evento onde, em minha opinião inexplicavelmente, centenas de pessoas são pisoteadas até a morte por milhares de outras!
O incidente que ocorreu em Abidijan, na Costa do Marfim, foi durante uma comemoração, a passagem de ano, ironicamente chamada Confraternização Universal – isso para mim é tão surreal e irracional que quase desisti desta matéria. Até a conclusão deste texto, o body count registrava 61 vítimas, a maioria crianças e mulheres. Ainda segundo a BBC, no mesmo estádio em 2009, depois de uma partida de futebol, 19 pessoas tiveram o mesmo destino.

Meus caros, a questão que levanto é: como brutalidades assim podem ocorrer em eventos com caráter comemorativo, recreativo ou espiritual?
Muito bem, vamos às estatísticas: a maioria dos casos ocorreu em eventos esportivos ou religiosos, momentos que supostamente devem proporcionar ao indivíduo diversão e algum conforto espiritual. As peregrinações religiosas no Oriente Médio lideram a lista – em uma delas em 1990, nada menos que 1426 participantes perderam suas vidas sob solas de sapatos de outros entre as cidades de Mecca e Mina.
Jogos de futebol também trazem números trágicos, e neste caso o incidente mais fatal foi em Moscou na então URSS em 1982, onde se acredita que 340 pessoas morreram amontoadas, tentando passar por cima umas das outras dentro de um túnel congelado nas imediações do estádio.
Em nosso país, tivemos algo semelhante mas em escala bem menor: em 2006 um show em São Paulo de algo que chamavam de "Rebelde" gerou um grande tumulto que resultou na morte de três crianças pisoteadas pelos demais "fãs".

Na língua portuguesa não há uma palavra definida para este acontecimento, mas em inglês há: “stampede”. Só que o termo é mais utilizado no que chamamos aqui de “estouro”, quando por exemplo uma grande quantidade de gado se desloca de forma violenta e descontrolada. Enfim, para um “estouro de boiada” ou de humanos, em inglês usamos o mesmo termo.
E concluo exatamente isto, não há muita diferença. Muitos indivíduos espiritualizados afirmam que o Homem é uma criação divina, que faz parte de “algo maior”, e que a “lei” é amar o próximo como a si mesmo. Situações lamentáveis como estas que tive o desprazer de relembrar mostram que o ser humano não está acima de coisa alguma, e digo mais, duvido que em estouros de gado morram touros ou vacas pisoteados covardemente desta forma!
Encerro este texto com algo mais estatístico e realista do que propriamente meu ponto de vista, ainda que ambos coincidam:

No caso do futebol, a primeira coisa que muitos torcedores parecem ter em mente, antes de sua vitória e alegria, é ver seu oponente, neste caso fazendo legítimo papel de inimigo, derrotado não só no campo, mas nas ruas também!
E as religiões, estas raramente fazem algo que vá além de limitar e atrofiar a mente das pessoas. Há quem tire muito bom proveito delas mantendo sua saúde mental e alcançando a felicidade, sem dúvida alguma. Mas a História nos mostra que o objetivo de quase todas as crenças é basicamente semear ódio, discórdia ou repulsa contra os que crêem em algo diferente. E a idéia de pensar no próximo como em si mesmo é por demais estapafúrdia e hipócrita, a ponto de ser incessantemente lembrada, pronunciada, copiada e colada nos facebooks da vida, mas na prática – bem, na prática é assim: 

"Passamos por cima de um na porta do banco, de outro na vaga do estacionamento, de três ou quatro em um corredor de mercado, de 340 no jogo de futebol e de quase 1500 na peregrinação religiosa"

Divino, nést pas? 

PEDRO BOTTERO.

* Dedico este trabalho à memória imortal do grande Philip Coppens (25.01.1971 - 30.12.2012). Rest in peace, friend.






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